Ele era da comunidade de Pahayd, região do Haxiu, e havia sido resgatado na tarde desse sábado (4). O menino foi levado ao posto de Surucucu, onde foi estabilizado durante à noite toda. Nesta manhã, não foi possível transferi-lo a Boa Vista devido ao mau tempo na região. O menino morreu por volta de 12h30.
"A equipe fez de tudo. Tudo, tudo, tudo, mas, infelizmente, a chuva e o tempo não permitiram que o helicóptero chegasse a tempo para levá-lo a Boa Vista", disse o líder indígena Júnior Hekurari Yanomami, que está na região.
Surucucu é considerada uma região de referência para atendimentos de saúde na Terra Yanomami. Lá, há uma unidade básica de saúde com estrutura precária - a enfermaria, onde são internados os indígenas, se resume a um barracão de madeira de chão batido. Mas, é neste espaço que profissionais atuam para atender e salvar a vida de crianças e adultos com doenças causadas pelo garimpo ilegal.
"Não consigo para de me perguntar o porquê de tantas crianças morrerem", disse Hekurari, emocionado.
Maior território indígena do Brasil, a Terra Yanomami enfrenta uma das piores crises sanitárias da história em três décadas de demarcação. Devido ao avanço do garimpo ilegal na região, crianças e adultos enfrentam casos severos de desnutrição e malária.
A invasão do garimpo predatório, além de impactar no aumento de doenças no território, causa violência, conflitos armados e devasta o meio ambiente - com o aumento do desmatamento, poluição de rios devido ao uso do mercúrio, e prejuízos para a caça e a pesca, impactando nos recursos naturais essenciais à sobrevivência dos indígenas na floresta.
Doentes, os adultos não conseguem buscar comida para a família ou cultivar plantações na terra devastada, o que impacta na dieta das crianças, as mais fragilizadas. É um ciclo que leva à fome e tem provocado a grave crise humanitária no território.
Crise humanitária Yanomami
Em janeiro deste ano, o presidente Lula esteve em Roraima para acompanhar a crise sanitária dos Yanomami. Na ocasião, ele prometeu pôr fim ao garimpo ilegal na Terra Yanomami. Ele classificou a situação dos indígenas doentes como desumana.
A Terra Yanomami tem mais de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Amazonas e Roraima, onde fica a sua maior parte. São cerca de 30 mil mil indígenas vivendo na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.
A região está em emergência de saúde desde 20 de janeiro e inicialmente por 90 dias, conforme decisão do governo Lula. Órgãos federais auxiliam no atendimento aos indígenas.
As ações de desintrusão - expulsão dos garimpeiros do território, devem ser coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, que no último dia 30 publicou a criação de um grupo de trabalho para elaborar, em 60 dias, medidas de combate ao garimpo ilegal em terras indígenas.