Após uma enxurrada de críticas, o dono do Twitter, Elon Musk, anunciou que vai aumentar o limite diário de leitura de posts na rede social. Agora, contas não verificadas poderão ler até mil tuítes por dia, 400 a mais que o previsto inicialmente.
Horas depois, o bilionário ironizou as críticas. "Em mais um exercício de ironia, este post atingiu um recorde de visualizações!", disse Musk sobre o tuíte em que anunciou as novas limitações.
Ele também retuitou a publicação de um usuário chamado que se apresenta como uma "paródia de Elon Musk", afirmando que os usuários do Twitter são viciados na rede e seu objetivo é fazer com que eles saiam das telas. "Estou fazendo uma boa ação para o mundo aqui", dizia o tuíte.
Os limites de leitura variam de acordo com o status de cada conta e são maiores para pessoas que assinam o "Twitter Blue", conhecidos como "usuários verificados". Desde o último sábado, usuários da plataforma têm as seguintes limitações:
Segundo o próprio Musk, a medida é temporária e tem como objetivo combater os "níveis extremos" de raspagem de dados no Twitter.
Um dia antes, na sexta (30), a rede social passou a bloquear tuítes públicos de pessoas que não estejam conectadas à rede social, numa outra ação para evitar a coleta de informações de seus usuários.
Após o anúncio do limite de visualizações, o nome do bilionário tornou-se o assunto mais comentado da rede social. Em segundo lugar, aparecia o termo "RIP Twitter" (descanse em paz, Twitter, em inglês), com usuários lamentando a decisão e decretando a morte da rede social.
Alguns ex-executivos do Twitter também criticaram a decisão. Esther Crawford, que era diretora de gerenciamento de produtos até ser demitida por Musk em fevereiro, tuitou no domingo:
"Arrogância + sem resistência - empatia com o cliente - dados = uma ótima maneira de incendiar bilhões".
Briga com Chatbots de IA
As mudanças ocorrem em meio a uma briga entre Elon Musk e os chatbots de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT e o Bard, que tiveram um boom de popularidade nos últimos meses e são alimentados por dados raspados da internet.
No caso do GPT-3, base do ChatGPT, são bilhões de textos extraídos de livros e da internet. O sistema, ou modelo, é capaz de notar padrões de associações de palavras na escrita para gerar os novos textos. Ele usa, em parte do processo, o feedback de humanos: pessoas que avaliam as respostas do algoritmo e ajudam a dizer o que está bom e o que não está.
"Quase todas as empresas que usam IA, desde startups até algumas das maiores corporações da Terra, coletam grandes quantidades de dados", escreveu Musk na sexta-feira. "É bastante irritante ter que colocar um grande número de servidores online em caráter de emergência apenas para facilitar a avaliação ultrajante de alguma startup de IA".
O bilionário afirmou, ainda, que a coleta de dados por terceiros no Twitter estava atingindo níveis extremos e prejudicando usuários da plataforma.
Em abril, Musk se envolveu num conflito e ameaçou processar a Microsoft após a gigante do Windows ter retirado a rede social de sua plataforma de anúncios, ao se recusar a pagas as taxas de acesso ao sistema de dados no Twitter. A justificativa para a cobrança foi justamente o uso dos dados para treinamento de inteligências artificiais generativas.
O Twitter não é o único a tentar combater o uso de dados pelos chatbots. A rede social no formato de fórum Reddit também havia anunciado em abril que passaria a cobrar o acesso ao seu sistema de entrega de dados, cujo nome técnico é API.
O fundador e executivo-chefe do Reddit, Steve Huffman, afirmou na ocasião que as informações contidas na rede social eram valiosas e não precisavam ser entregues de graça às maiores empresas do mundo. A medida também foi adotada pelo Twitter um mês antes, mas a empresa não citou as inteligências artificiais generativas como motivação para a cobrança.
O Reddit é gerido de forma colaborativa por administradores voluntários que se revoltaram com a novidade e responderam com um boicote. Da noite para o dia, várias perguntas e respostas hospedadas na plataforma deixaram de estar disponíveis.
Em meio à popularização dos chatbots de inteligência artificial, Musk já afirmou que está trabalhando numa inteligência artificial para competir com o ChatGPT e o Bard.
Segundo o jornal britânico Financial Times, o dono do Twitter chegou a reunir uma equipe de pesquisadores e engenheiros de IA e discutiu com investidores da SpaceX e da Tesla sobre a possibilidade de financiamento para a nova tecnologia.
Em entrevista, o próprio Musk afirmou que busca combater os esforços da Microsoft e do Google com uma inteligência artificial que "busca a verdade" e evita o politicamente correto.
"Vou lançar algo chamado TruthGPT, ou uma IA que busque a verdade absoluta e tente entender a natureza do universo", disse Musk.
O bilionário foi um dos fundadores da OpenAI, responsável pelo ChatGPT. Ele se afastou em 2018 alegando conflito de interesses com sua fabricante de carros, Tesla, que passaria a investir mais em inteligência artificial.