O relatório final da Polícia Federal (PF), divulgado nesta terça-feira (19), sobre o certificado falsificado do comprovante de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro, constatou que o esquema criminoso organizado pelo ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, havia fraudado cerca de nove certidões.
A Polícia reuniu provas plausíveis para o indiciamento de Bolsonaro pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informações, após apuração de uma série de provas e depoimentos. Foram investigadas mensagens em aplicativos de celular, registros de login em sistemas da Saúde e dados de geolocalização dos investigados, entre outros.
O advogado responsável pela defesa do ex-presidente, Fabio Wajngarten, criticou o fato de ter conhecimento do indiciamento pela imprensa.
“Vazamentos continuam aos montes ou melhor aos litros. É lamentável quando a autoridade usa a imprensa para comunicar ato formal que logicamente deveria ter revestimento técnico e procedimental ao invés de midiático e parcial”, disse ele, por meio do X – antigo Twitter.
Jair Bolsonaro sempre negou que tenha tomado a vacina para covid-19. “Não existe adulteração da minha parte, não existe. Eu não tomei a vacina, ponto final”, disse Bolsonaro a jornalistas em maio de 2023, ao comentar as investigações.
Cid também foi indiciado, pelo crime de uso indevido de documento falso. Foi por conta dele que o esquema de investigações da PF foi montado, após o tenente-coronel ter pedido ao sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, seu colega na Ajudância de Ordens da Presidência, que o auxiliasse a conseguir um cartão de vacinação forjado para sua esposa Gabriela Santiago Cid.
Com a solicitação, o sobrinho do oficial, o médico Farley Vinicius de Alcântara, providenciou um cartão de vacinação da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás, preenchido com duas doses da vacina contra a covid-19, em nome de Gabriela. Os dados utilizados diziam respeito a uma enfermeira que havia sido vacinada em Cabeceiras (GO).
O relatório ainda informa que o grupo estava por trás da falsificação da carteira de vacinação do ex-presidente e da sua filha, Laura, além das três filhas de Mauro. O cartão falso foi impresso nas dependências do Palácio do Planalto.
A partir de agora, a Polícia Federal deve encaminhar todas as conclusões do inquérito para o Ministério Público Federal. A investigação segue a cargo do STF, onde caberá ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidir o cabimento da denúncia contra Bolsonaro e Mauro Cid.
Caso seja concretizada, a acusação deve condenar Jair Bolsonaro a uma pena de três a oito anos de prisão, mais multa. Em depoimento cedido à PF, o ex-chefe do país disse que não determinou qualquer iniciativa deste tipo do ex-ajudante da Presidência.
“Toda gestão pessoal ficava a cargo do ex-ajudante Mauro Cid”, declarou Bolsonaro em seu depoimento à PF. Ao ser perguntado “se tinha ciência da falsificação em nome da mulher do Cid, disse que não teve conhecimento ao fato mencionado” e nem sobre a inserção dos dados em sua carteira de vacinação.